domingo, 8 de janeiro de 2012


E assim surgiram todas as coisas

“No momento infinito, antes de tudo,
a Deusa levantou-se do Caos e deu
nascimento á Ela mesma.

Isto foi antes de ela Ter nascido,
até Ela própria.
E quando separou o céu das águas,
Ela dançou sobre elas.

Conforme Ela dançava, assim aumentava seu êxtase
e em Seu êxtase Ela criou tudo o que existe.

Seus movimentos provocavam os ventos e assim
o elemento Ar nasceu e respirou, e a Deusa
nomeou a Si mesma de Arianrhod, Cardea e Astarte.

E faíscas saíam de seus pés conforme Ela dançava
e brilhavam como o Sol, e as estrelas se prenderam em Seus
cabelos. Os cometas passavam sobre Ela e assim o elemento
Fogo nasceu e a Deusa nomeou a Si mesma de: Sunna, Vesta e Pele.

Sob os Seus pés moviam-se as águas formando ondas e assim
os rios e lagos passaram a fluir e Ela nomeou a Si mesma de:
Binah, Mari Morgine e Lahshmi.


E procurando descansar Seus pés na dança,
produziu a Terra de modo em que as margens dos rios
e mares fossem os Seus pés; as terras férteis, o Seu ventre;
as montanhas, os Seus seios  fartos e
Seus cabelos todas as coisas que crescem,
e a Deusa nomeou a Si mesma de:

Cerridrew, Deméter e Mãe do Milho.

E Ela se tornou Àquela que é, foi e será.
Nascida de sua própria dança sagrada,
Do prazer cósmico e da alegria infinita.

Ela sorriu e criou a mulher á Sua própria imagem,
Para ser a sua Sacerdotisa.

De seus elementos – Terra, Ar, Fogo e Água –.
A Deusa criou o Seu Consorte para lhe dar amor,
Prazer, companheirismo e para compartilhar.

A Deusa falou então às Suas filhas:

-         Eu Sou a Lua que iluminará
os seus caminhos e revelará os seus ritmos.
-         Eu Sou a dançarina e a dança.
-         Eu Me movo sem movimento.
-         Eu Sou o Sol que dá calor
para germinar e crescer.
-         Eu sou tudo o que será.
-         Eu Sou o vento que virá ao seu chamado
e as águas que oferecem a alegria.
- Eu Sou o Fogo da dança da vida
e a Terra abaixo de seus pés dançantes.
-         Eu dou á todas as minhas Sacerdotisas
Os três aspectos que são Meus:

-         Sou Ártemis, a Donzela dos animais
e a virgem da caça.
-         Eu Sou Isis, a Grande Mãe.
-         Eu Sou Ngame, a Deusa ancestral que sopra a mortalha.
-         Eu serei chamada pôr milhões de outros nomes.

-         Chamem pôr Mim minhas filhas, e saibam que Eu Sou

Nêmenis. Nós todas somos Donzelas, Mães e Anciãs.

-         Oferecemos nossa energia criada ao espirito das mulheres
que foram, ao espírito das mulheres que virão e ao espírito
das mulheres que crescerão.

-         E assim vamos evoluir juntas.

Mito Diânico da Criação......

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

As Três Faces da Deusa

A conexão com a Deusa é um processo vital na Religião Wicca.
A Deusa é a Grande Criadora e mantenedora da vida. É através dela que todas as coisas provêm e a Ela tudo um dia retornará.
É difícil definir a Deusa em alguns parágrafos, mas a versatilidade é uma de Suas características mais interessantes. Para alguns Ela é a única Divindade existente. A Deusa não é necessariamente vista como uma pessoa, mas uma força multifacetada de energia que se expressa em uma variedade de formas e pode ter inúmeros nomes diferentes.
Ela foi chamada Ishtar, Astarte, Inanna, Lilith, Ísis, Maat, Brigit, Cerridwen, Gaia, Deméter, Danu, Arianhod, Ceridwen, Afrodite, Vênus, Ártemis, Athena, Kali, Lakshmi, Kuan-Yi, Pele e Mary, entre muitos outros nomes. A Ela foram atribuídos muitos símbolos, como serpentes, pássaros, a Lua e a Terra.
A Deusa é a Criadora de todas as coisas e, ao mesmo tempo, a Destruidora. Tudo vem Dela e tudo retornará a Ela. A Deusa está contida em tudo e vive na Terra, nos céus, no mar, em cada botão de flor, em cada pingo d’água e em cada grão de areia. Ela não é um Ser distante e intocável, mas sim uma Divindade que estão aqui conosco, vive e se manifesta em cada um de nós. Ela é a Virgem, a Mãe e a Anciã. Ela é você, Ela é eu, Ela é tudo e todos.

Nas práticas Pagãs, a Deusa possui três aspectos distintos. A Triplicidade da Deusa é muito anterior ao Cristianismo e não é difícil que seja ela quem deu origem ao pensamento da Trindade Cristã. Porém, na Wicca, a Triplicidade se refere a três estados distintos da mesma divindade.
A donzela, a Mãe e a Anciã. As 3 faces da Deusa estão ligadas às 3 faces da Lua trabalhadas na Bruxaria, que são as Luas Crescente, Cheia e Minguante, e aos 3 ciclos de nossa vida, que são a infância a maturidade e a velhice.
Entrar em contato com as faces da Deusa significa saber o que esse período podem nos trazer de positivo o que aprendemos e poderemos aprender com eles.
A Deusa é abrangente porque pode ser tudo que você quiser que Ela seja. A maioria dos seguidores da Deusa compartilha algumas convicções em comum. Starhawk, uma das mais atuantes Bruxas modernas e autora de Dança Cósmica das Feiticeiras, afirma que três princípios da religião da Deusa são: a imanência, a interconexão e a comunidade.
Imanência é o meio pelo qual todos os seres estão relacionados e a forma como estamos unidos ao Cosmo.
Como comunidade, crescimento e transformação passam por interações íntimas, basicamente, a lei da Deusa é Amor – Amor Incondicional. Ela não tem nenhuma ordem a ser seguida a não ser o Amor, em todas as suas manifestações e formas.

A DONZELA

Dentre as 3 faces da Deusa, Donzela ou, como também é chamada, a Virgem é a mais jovem, relacionada com os descobrimentos e aspectos mais criativos de nossa personalidade. Ela é a inocência e despreocupação, a alegria de viver. Esta associada com a Primavera e é festejada em Ostara.
O termo Donzela ou Virgem não se refere ao sentido sexual, mas sim ao aspecto de inocência e independência. A Virgem e a dona e responsável por si mesma. Este é um sentido quase inconcebível de pensar em uma sociedade patriarcal, mas que era muito compreendido e aceito entre as sociedades primitivas.

Os nomes recebidos pela Donzela variam de acordo com as distintas culturas em que a encontramos. Damos como exemplo:
Ártemis: Deusa romana dos bosques e da caça, tida a eterna Virgem.

Perséfone: Também conhecida como Prosérpina, cujo nome justamente significa Donzela. É a filha de Deméter e foi raptada por Hades; reina junto com ele no Submundo, lembrando-nos assim o outro aspecto da Deusa: A Anciã.

Rhianon: Deusa celta que saiu do submundo, que a relaciona com Perséfone.

Rituais que usam a face Virgem da Deusa
• Qualquer novo inicio, ou até mesmo esperanças e planos para novos começos.
• Quando assumimos um trabalho novo ou planejamos solicitar um novo trabalho.
• Durante os "primeiros passos" das novas idéias.
• Sempre que você planeja ou começa um ciclo completo em sua vida.
• Quando se muda para uma nova casa ou apartamento.
• Ao entrar em uma nova escola ou voltar a est7udar depois de um longo tempo.
• Qualquer jornada que esteja conectada com mudanças antecipadas.
• Começo de uma relação nova, amor ou amizade.
• Planos para engravidar.
• Nascimento de uma criança.
• A primeira menstruação de uma menina.
• O inicio da puberdade de um menino.

Os animais associados ao aspecto Virgem da Deusa são os Cervos e qualquer outro animal silvestre.
O aspecto Virgem da Deusa representa a mocidade, a excitação da conquista dos desejos, a novidade da vida e da magia. Na idade humana ela estaria entre a puberdade e os vinte anos. As cores dela são suaves e claras, como branco, cor- de- rosa ou amarelo.


A MÃE

A face Mãe da Deusa é tida como a da eterna doadora da vida. Esta foi uma das primeiras representações religiosas expressas pelos seres humanos.
É a esse aspecto da Deusa que estão associadas todas as imagens que foram encontradas em escavações de sítios arqueológicos, como a Vênus de Willendorf.
Algumas imagens mitológicas atribuídas á Mãe são tidas tanto como criadoras quanto destruidoras. Podemos ver isso como a própria Natureza em todos os seus aspectos.

Existem numerosos exemplos que poderiam ser associados ao aspecto da Deusa. Deméter: Encarregada da fertilidade da terra e das colheitas.

Ísis: Chamada também de a Grande Mãe Criadora e Doadora da Vida.

Badb: A Deusa celta que forma uma trindade junto com Anu e Macha. Possui um caldeirão como símbolo do ventre.

Freya: Considerada a líder das Disir, as matriarcas Divinas. Está intimamente ligada a Magia e aos gatos.

Todos os rituais que usam a face Mãe da Deusa
• Projeto de alegria e conclusão
• Quando o parto está próximo.
• Necessidade de força para finalizar algum assunto ou situação mal- resolvida.
• Benção e proteção. Especialmente a mulheres que são ameaçadas por homens.
• Direção em decisões na vida.
• Matrimônio.
• Achando ou escolhendo uma companheira ou um companheiro.
• Escolhendo ou aceitando um animal. Proteção de vida aos animais.
• Fazendo escolhas de qualquer tipo.
• Buscando por períodos de paz.
• Intuição ou desenvolvimento psíquico.
• Direção espiritual.

A Mãe é aquela que se volta para a nutrição, à preocupação e a fertilidade; é uma mulher no início da vida e no cume do seu poder. Ela protege e assegura a justiça. Na idade humana, seria uma mulher por volta dos trinta anos. As cores dela são um pouco mais fortes que as da Virgem, como vermelho, verde, cobre, púrpura, azul.
Os animais associados ao aspecto Mãe da Deusa são o gato e a pomba.


A ANCIÃ

Sem a Virgem não há começos, sem a Mãe não há vida e sem a anciã não há o fim. A Deusa Anciã é o aspecto menos compreendido e o mais temido, já que nos leva inevitavelmente a refletir sobre a morte.
A Anciã foi reverenciada nas antigas culturas como regente do submundo, visto antigamente como um lugar de descanso das almas entre as reencarnações. Obviamente todos nascemos e morremos e a função da Deusa Anciã é nos acompanhar durante a última etapa de nossa vida, preparando-nos para o Outro Mundo.

Os exemplos associados à Deusa Anciã são:
Hécate: Entre os gregos chamada durante a idade Média de a Rainha das Bruxas, era uma divindade do Submundo e da Lua, adorada nas encruzilhadas, onde se faziam sacrifícios em sua homenagem.
Hel: Deusa germânica do Submundo. Segundo os Mitos, era a Ela que retornavam todos os mortos ao fim de sua existência.
Morrigu: Deusa celta dos Mortos, que também regia as guerras. Tem um aspecto triplo em si mesma e às vezes era chamada de "As três Morrigans".

Temas de Rituais que usam a face Anciã da Deusa:
* Relações, trabalhos, amizades e amizades que estejam terminando.
* Menopausa ou sintomas de envelhecimento.
• Divórcio.
• Um reagrupamento de energias necessárias para o término de um ciclo de atividades ou problemas.
• Tranqüilidade antes de pensar em novas metas e planos.
• Mudança de habitação ou trabalho.

A Anciã é um ser de sabedoria da idade avançada. Ela é a Bruxa e conselheira. Preocupa-se com a Virgem e com a Mãe. Ela é lógica e pode ser terrível em sua vingança. Na idade humana, ela teria aproximadamente 45 anos ou mais. Dos três aspectos o mais difícil de ter correspondência com a idade humana é o da Anciã. As cores tradicionais dessa face são: preto, cinza, púrpura, marrom, ou azul noite.
O aspecto negro da Deusa nos ensina que, assim como tudo na Natureza se move em ciclos, nossa vida segue o mesmo fluxo, e devemos aceitar a morte como uma passagem a outro estado, tão válido e parte da vida quanto o próprio nascimento.
Os animais associados à Deusa Anciã são a coruja, o corvo e o lobo

sábado, 31 de dezembro de 2011


CAILLEACH



""Cailleach é a Anciã ancestral da Escócia,também conhecida como a Carline ou Mag-Moullach,representado o aspecto de velha da Deusa no ciclo anual. Esta ligada às trevas e ao frio do inverno e assumiu a direção no ciclo das estações em Samhaim,a véspera de primeiro de novembro. Ela portava um bastão negro do inverno e castigava a terra com frias forças contrativas que ressecavam a vegetação. Com a aproximação do fim do inverno,ela passava o bastão do poder para Brigid,em cujas mãos ele se tornava branco que estimulava a germinação das sementes plantadas na terra negra. As forças expansivas da natureza começavam então a se manifestar.
Por vezes,essas duas deusas eram retratadas em batalha pelo controle da natureza:dizia-se até que Cailleach aprisionava Brigid sob as montanhas no inverno. Mas o melhor modo de vê-las é como duas facetas de uma deusa tríplice das estações:a Velha Cailleach do Inverno,a Donzela Brigid da Primavera e a Deusa-Mãe do viço do Verão e da frutificação do Outono. O nome do último membro dessa trindade não foi preservado na lenda folclórica com o mesmo cuidado. Talvez porque ela representava uma faceta demasiado pagã da Deusa,vinculada demais com a fecundidade e com as forças sexuais da vida. Em um certo sentido,a figura Cailleach-Brigid,pode ser considerada como tendo um paralelo com o mito Deméter-Perséfone dos gregos antigos.
A imagem de Cailleach foi distorçida e hoje ela está representada no vôo da bruxa que aparece na noite de Halloween. Foi caracterizada como uma fada do mal que traz conisgo o inverno e a morte. Apesar de ser perpetuada deste modo terrível,sabemos que neste aspecto de Deusa Anciã,ela está inteiramente realizada em sabedoria e beleza.
Cailleach era tida como uma grande feiticeira e para obter suas bençãos os fazendeiros após as colheitas deviam reverenciá-la. Para tanto,o primeiro fazendeiro que terminasse sua colheita,deveria se ocupar na feitura de uma boneca de palha com os últimos grãos colhidos. A boneca pronta,deveria passar para o segundo granjeiro e assim por diante,até chegar no último. Esse,deveria guardá-la até o dia da celebração do festival de Brigid.
Na Escócia foi chamada originalmente de Caledonia ou a “terra doada por Cailleach”. Para os escoceses,Cailleach era aquela que cujo bastão negro,separava as montanhas,mudava a paisagem,previa o crescimento das ervas e comandava o tempo. Seu nome aqui,pode estar relacionado com a deusa hindu Kali.
Ficou conhecida também,como “Mulher de Pedra”,porque era vista andando e carregando uma cesta cheia de pedras. Ocasionalmente deixava cair algumas,formando círculos de pedras. As montanhas também teriam sido criadas por pedras que a Deusa deixou cair da cesta. Cailleach representava a terra coberta de neve e geada. Era uma Deusa da Transformação e guardiã da semente,que conserva dentro de si a força essencial da vida.
Era a Bruxa do Inverno que voava montada no dorso de um lobo,de um pico de montanha à outro. Seu rosto apresentava uma coloração azul escuro e possuía apenas um olho no centro da testa.Com este único olho,via além da dualidade e reconhecia a unidade de todas as coisas. Esboçava ainda,um sorriso vermelho de dentes de urso selvagem com presas de javali e seu cabelo era feito de um matagal coberto de geada. Vestia uma roupa de cor cinza e uma capa de lã escocesa lhe envolvia os ombros. Quando violentas tempestades se formavam por trás das montanhas,dizia-se que Cailleach preparava-se para lavar sua capa (plaid). Fortes ruídos eram ouvidos por três dias,tempo necessário para que seu caldeirão fervesse e pudesse iniciar a tal lavagem. Sua capa (plaid) representava a Terra. Quando ela ficava branca,a Terra cobria-se de neve. Somente em Samhaim,Cailleach deixava as montanhas e caminhava sobre a Terra. Em seguida,voltava aos afazeres em sua lavanderia.
É um pouco duro trabalhar com a energia de Cailleach,principalmente por sua aparência causar um certo medo. Nas meditações Ela aparece físicamente como descrevi acima. Mas seu poder é muito grande e costuma punir nosso desrespeito para com Ela com inundações e desastres naturais. Se a tratar do modo correto e respeitoso,esta Deusa lhe dará soberania sobre sua vida,pois é considerada uma Deusa Soberana que dava aos reis o direito de governar suas terras. Além disso,Cailleach nos passa um tipo especial de poder e muita confiança. Dizia-se que ela aparecia nas estradas como uma Mulher Anciã que pedia para um herói deitar-se com ela,se ele concordasse,transformava-se em uma linda mulher. Ao beijar a bruxa,ela transformava-se em uma bela fada.
Na história chamada as aventuras dos filhos de Eochaid Mugmedn,cinco irmãos saem para caçar na floresta para provarem que são corajosos. Acabam perdidos e acampam entre as árvores. Acendem uma fogueira e cozinham suas caças para matar a fome. Um dos irmãos é então encarregado de procurar água. Ao chegar perto de um poço,encontra uma bruxa monstruosa guardando-o. Somente lhe fornecerá a água se beijá-la. O rapaz foge correndo e vai contar aos irmãos o ocorrido. Um a um,os irmãos vão até o local do poço,mas acabam fugindo,sem beijar a bruxa,com exceção de Niall que lhe dá um abraço e o beijo que a mulher tanto ansiava. Quando se afasta e a olha novamente,tinha se tornado a mulher mais bonita do mundo. Surpreso,pergunta-lhe a causa para tanta transformação e ela responde:
- “Rei de Tara,eu sou a Deusa Soberana”e continua,”tua semente estará sobre todo o clã”.
Aparecendo em seu aspecto repulsivo,a Deusa podia testar quem deveria ser um verdadeiro rei,um que nunca será enganado pelas aparências e sabe que é nos recantos mais escondidos e obscuros que se encontra os maiores tesouros. Tem que ser ainda,um homem caridoso que submete-se a qualquer tipo de situação,independente da compaixão. Sobretudo,é beijando seu lado escuro,que compreenderá os mistérios da vida e da morte,compreendendo que são dois lados de uma mesma moeda,só assim adquirá sabedoria e capacidade para governar seu reino.
Cailleach estava sempre renovando-se ciclicamente de jovem à mulher madura. Relata-se que tenha tido pelo menos cinqüenta filhos enquanto viveu pela terra. Seus filhos deram origem a tribo de Kerry.
Há muitas histórias sobre a Deusa Cailleach. Conta-se que foi ela que criou as ilhas Hébridas Interiores.
Como Deusa da Tempestade é conhecida como Cailleach Beara,sendo o ser mitológico vivo mais antigo associado à Irlanda. Em uma conversação com Fintn,o Sábio,e o falcão Achill,lhe foi perguntado:
-”É a Senhora àquela que comeu as maçãs no início do mundo?”. Tal pergunta era coerente em virtude das maçãs estarem associadas com a imortalidade e se constituírem o alimento dos Deuses. Cailleach,deste modo,estava ligada íntimamente,as colheitas de maçãs,nabos,assim como:aos corvos,à Lua Escura e ao número 7 (sete). O “Livro de Lecan”nos diz que sete formam seus ciclos de vida,morte e renascimento. Sete é um número sagrado,símbolo da perfeição.
No folclore da Irlanda e da Escócia,era chamado de cailleach o último feixe colhido da plantação. Ele obrigatóriamente deveria ser dado como alimento para os animais domésticos,ou ser enterrado na terra,para que lá permanecesse durante todos os meses do inverno. As moças solteiras temiam serem elas à amarrar este último maço,pois se isso acontecesse,acreditavam que jamais casariam. Na Escócia,há também uma tradição folclórica que envolve amarrar o cailleach (feixe) com uma fita e pendurá-lo no alto da porta principal da casa.
É chamada de Carlin nas planícies da Escócia,Bruza de Baare ou Cailleach Bhuer (Mulher Azul) nas montanhas e Cally na Irlanda do Norte. Suas árvores sagradas são o azevinho e o urze.

Dias de honra a Cailleach:27/02,31/10,10/11,21/11.""

Rosane Volpatto)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


YULE, O Solstício do Inverno



Na tradição de Avalon e da Deusa, Yule, o Solstício do Inverno, representa o estado de morte e de hibernação, quando a vida se recolhe no interior das camadas e camadas de neve e de terra, protegida do gelo e dos ventos frios, esperando adormecida que chegue a Primavera para renascer. As aves de rapina limpam até ao osso os cadáveres dos animais cuja vida chegou ao fim; as sementes apodrecem, transformam-se, preparando-se para ativar os códigos com que a Natureza as dotou. No ventre da terra, a vegetação morta torna-se alimento para a nova vida. Ossos, pedras, conchas, cascas vazias são tudo o que resta neste tempo em que a morte cumpre em pleno a função que tinha começado no Equinócio do Outono.
Até ao renascimento, Yule é quietude, resiliência. É preciso parar, aguentar, esperar. Entretanto, no meio de toda a morte e desolação, uma planta há que permanece igual a si mesma: o verde Azevinho com as suas bagas vermelhas, um símbolo da permanência da Deusa, daquilo que na Vida é eterno, mas também uma importante reserva de alimento que Ela providenciou para os seus pássaros sagrados, mensageiros entre a Terra e os Céus, representações do Espírito e do Elemento Ar. Sabemos que as aves são por todo o lado uma das mais antigas zoofanias da Deusa. 
É óbvio que o nosso clima mediterrânico não nos permite sentir este rigor extremis, a não ser nas regiões mais montanhosas e mais a Norte. Seja como for a estação convida-nos ao recolhimento e à quietude, e também à possibilidade de nos submetermos à ação precisa e rigorosa dos ventos, que nos ajudarão a despir, a libertar-nos de tudo aquilo que já não queremos, do que já não faz sentido conservarmos connosco ou em nós.

A Deusa, no seu aspeto anciã, Danu, Cailleach, Cailícia-Beira, convida-nos a chegarmos ao “osso”, à essência da nossa verdade, libertando-nos do falso e do supérfluo, soltando as máscaras, a falsa alegria, a conversa fiada, tudo aquilo que repetimos como autómatos, vazio de sentido, sem alma nem consciência. Ela convida-nos a estarmos mais presentes e mais despert@s na Vida, honrando o silêncio, permitindo-nos a nós mesm@s igualmente hibernar, interiorizarmo-nos, vivendo a nossa verdade, centrad@s no coração.
Este é por excelência um tempo de interiorização, tempo para nutrirmos o espírito e a alma, para orarmos, meditarmos, para enfatizarmos a nossa vida espiritual, uma vez que o elemento Ar representa o próprio Espírito. Como os nossos Ancestrais nos permitem uma conexão vital com o divino, com a fonte de toda a Vida, contactando com esses mesmos Ancestrais, podemos contactar com a própria essência divina, com a fonte de toda a Vida e, com sorte, receberemos a sua graça. Este é o tempo ideal para nos encontrarmos com  os nossos mais remotos Ancestrais, aqueles que nos criaram, os seres de Fogo, Ar, Vento, Água, Terra primordiais, tentando ouvir as mensagens que podem ter para nós.
Luiza Frazão©, 2010
Fontes:
- "Priestess of Avalon, Priestess of the Goddess, Kathy Jones
- "Spinning the Wheel of Ana", Kathy Jones

A DEUSA DO DISCO DE PRATA

“Tu, que deambulas por muitos lugares sagrados e és reverenciada com diferentes rituais;
Tu, cuja luz suave clareia o caminho dos viajantes e nutre as sementes escondidas sob a terra; Tu, que controlas o caminho do Sol e até mesmo a intensidade dos seus raios,
Eu Te imploro, chamando todos os Teus nomes e todos os Teus aspectos,
Eu Te invoco com todas as cerimónias que Te foram dedicadas,
vem a mim e traz-me repouso e paz”

Apuleio, "O Asno Dourado"

"Para a nossa mentalidade atual, baseada em valores solares, pode parecer estranha a afirmação do escritor romano Apuleio (século I) sobre o controlo exercido pela Lua na trajetória e intensidade dos raios do Sol.
No entanto, se voltarmos para o início da história da humanidade, podemos constatar a maior relevância simbólica e mitológica da Lua, bem como a antiguidade dos cultos lunares em relação aos valores e cultos solares. Na Caldeia, os astrólogos ignoravam o Sol e fundamentaram o seu sistema nos movimentos da Lua. Até hoje, na astrologia védica, o peso da interpretação recai sobre o signo lunar natal, os meses são denominados “mansões lunares” e caracterizados pela posição da Lua cheia na respectiva mansão.

Os cultos lunares tiveram origem no paleolítico e os primeiros calendários conhecidos foram os lunares, baseados no ciclo menstrual da mulher. O mais antigo calendário astrológico conhecido foi criado pelos babilónios e chamava-se “As casas da Lua”, estabelecido a partir do ciclo de lunação, com os seus períodos mensais representados pelos signos zodiacais. A principal deusa lunar da Babilónia era Ishtar, cujo cinturão era enfeitado com representações e símbolos do zodíaco.

Inúmeros artefactos neolíticos talhados em pedra, chifre e osso, encontrados em grutas espalhadas por vários países na Europa e Ásia têm inscrições agrupadas em séries alternadas de 28 a 30 traços, demonstrando o antigo conhecimento astronómico dos ciclos lunares. Atualmente está sendo cada vez mais divulgado e utilizado o calendário lunar do povo Maia, com base no ciclo das treze lunações que formam um ciclo solar.

Desde os mais remotos tempos, a Lua foi reverenciada como a manifestação da Grande Mãe Universal, o aspecto feminino da Divindade, a fonte criadora e sustentadora da vida, cuja luz e bênção eram invocadas nos rituais de
fertilidade, no plantio das sementes e no parto das crianças. As suas fases passaram a simbolizar o próprio ciclo da gestação, nascimento, crescimento mas também o amadurecimento, decadência e morte. As suas faces clara e escura foram consideradas os aspectos doadores da vida e destruidores da natureza – a Mãe sendo tanto a Criadora como a Ceifadora.



A Lua foi venerada sob inúmeros nomes nas várias tradições e culturas antigas. Apesar desta diversidade, existe uma similitude em relação aos seus atributos de acordo com as suas fases. A Lua crescente representava a vitalidade da Deusa jovem, o frescor da Donzela, o potencial do crescimento, o início das realizações. Tornando-se cheia, a Lua personifica o ventre grávido da Mãe, o florescimento e abundância da natureza, a concretização das possibilidades. Ao minguar, a Lua assume o aspecto de Anciã, assinalando o fim da colheita, o declínio das energias, a sábia preparação para conhecer os mistérios da morte e do renascimento.
Dificilmente se encontra nas várias mitologias uma única deusa que sintetize a inteira gama do simbolismo lunar. Nos panteões grego e celta, existem inúmeras deusas lunares com características específicas relacionadas aos atributos das fases e representando os arquétipos da Donzela, da Mãe e da Anciã.


Uma Deusa celta pouco conhecida é Arianrhod, descrita na coletânea de textos galeses “Mabinogion” como “A Senhora da Roda de Prata”. Vivendo na longínqua terra encantada de Caer Sidi, ela personificava uma antiga Deusa Mãe celeste, regente da constelação estelar Corona Borealis, cujo nome em galês era “Caer Arianrhod” , ou seja, “O castelo girante de Arianrhod”.
O mito de Arianrhod é muito complexo, com elementos contraditórios e de difícil compreensão, denotando as deturpações decorrentes da interpretação das antigas lendas da tradição oral dos bardos, pelos monges e historiadores cristãos. Há, no entanto, uma passagem muito interessante que descreve de forma metafórica e pitoresca uma mescla de atributos da Deusa como Donzela e Mãe escura. Filha da deusa da terra Don, Arianrhod foi chamada pelo Deus celeste Math para ser sua acompanhante (na verdade, seu dever era segurar os pés do Deus no seu colo enquanto ele descansava). A condição essencial deste encargo era a virgindade da candidata. Mas, ao ser testada pelo bastão mágico de Math, Arianrhod de repente deu a luz à gémeos – um, bem formado, Dylan, que se foi arrastando para o mar (onde se transformou depois em um deus marinho), e outro, ainda em estado embrionário. Arianrhod desapareceu, mas antes amaldiçoou este filho para que ele não tivesse jamais um nome, não pudesse usar armas nem casar. Na cultura celta, era a mãe que dava o nome e abençoava o seu filho nestes rituais de passagem. No presente mito, a criança foi adotada pelo irmão de Arianrhod, o mago Gwydion, que, no devido tempo, conseguiu ludibriar Arianrhod e, usando de recursos mágicos, a convenceu a dar um nome ao filho e permitir-lhe usar armas. O nome Llew Llaw Gyffes, “o brilhante, luminoso e habilidoso”, era o mesmo nome dum famoso herói celta Lugh, personificação dum antigo deus solar. Comprova-se, assim, por metáforas e intrincados simbolismos celtas, a antiguidade das divindades e cultos lunares, a Lua representando as tradições matrifocais da Deusa que deram origem aos cultos e mitos solares posteriores.



Na Ásia - Ocidental e Menor - durante séculos foram reverenciadas inúmeras Deusas Mãe, algumas delas com características lunares. Na Suméria e na Babilónia, a Deusa Anath, Anunith ou Antu era conhecida como a “Senhora da Lua, do Céu e das Montanhas”, representada por um disco prateado com oito raios. Assim como Arianrhod, ela reunia as qualidades da Donzela – regendo o plantio das sementes e o crescimento dos brotos e da Mãe – quando desce para o mundo subterrâneo para resgatar o seu filho/consorte da escura morada de Mot, o deus da morte, e regenera a terra seca com a chuva fertilizadora.
Posteriormente, os atributos de Anath foram absorvidos no mito e no culto de outras deusas, como Ashtar, Astarte e Asherah."


Mirella Faur